O dia em que fiquei mudo dando uma palestra…

Eu fui convidado para dar uma palestra para um grupo de 30 jovens executivos de uma grande empresa de construção civil. Este grupo seleto de “high potentials”, participava de um MBA interno patrocinado pela empresa. Só fera sendo preparada para assumir altas posições no grupo!

Como parte da agenda, eles convidavam executivos e palestrantes dos mais diversos setores. O VP de RH se interessou por uma das quatro palestras que eu oferecia naquele momento. Felizmente, era que eu mais gostava também, intitulada “Deu ruim” – o que aprendi com os meus erros.

Tive a sorte de escutar a seguinte frase de uma pessoa muito inteligente na minha adolescência: “é bom aprender com os nossos erros. Mas ainda melhor, é aprender com os erros dos outros”.

Em resumo, trata-se de uma palestra de duas horas em que conto os principais erros que cometi durante a minha carreira de executivo. O exercício de escolher os erros é sempre difícil, pois provavelmente conseguiria falar por muito mais horas… Mas, a ideia central é sempre evitar que outros executivos cometam alguns dos erros que cometi.

Voltando à palestra, como já disse que era uma das que mais gostava, eu estava muito à vontade. E depois de falar abertamente sobre os meus erros – pasmem vocês, tudo isso já era muito natural – as interações foram ótimas. E enquanto eu falava, como sempre costumo fazer, prestava atenção cuidadosa na linguagem corporal dos participantes. Eles interagiam, sorriam… tudo indo realmente muito bem.

E assim fui pego de surpresa…

Ao final da palestra, o VP já tinha tudo super bem-organizado para a sessão final de perguntas e respostas. Esta segunda parte do evento também transcorreu super bem. Todos engajados, relaxados e fazendo perguntas muito inteligentes.

Eu estava realmente muito à vontade e bastante confortável, até que o mediador sugeriu encerrarmos a sessão com uma última pergunta e chegou essa bomba:

“Sérgio, tenho 25 anos. O que o Sérgio de hoje diria para o Sérgio de 25 anos?”

Escutei perfeitamente a pergunta. Olhei para o jovem com um misto de admiração e… desespero!!!

montagem de um homem sem boca, vestido de camisa e gravata, diante de um microfone, foi assim que fiquei mudo em uma das minhas palestras
Sim, fiquei mudo em uma de minhas palestras. Mas foi ótimo isso ter acontecido!

Como eu poderia responder à esta pergunta? Nesse estágio da minha vida profissional eu já havia passado por inúmeras sessões de media training e, para todos os efeitos, já era um executivo e palestrante “cascudo”. Mas, travei. E não travei pouco, não. Travei muito.

Garganta secou como um trainee…

A alternativa encontrada foi responder com o coração. Até porque era uma questão muito pessoal. E a resposta saiu mais ou menos assim:

 “Eu diria para o Sérgio de 25 anos que ele não precisa escolher entre ser bem-sucedido e ser feliz”.

Pronto, falei.

Hoje soa absolutamente retrógrado e provavelmente ridículo. Mas, no início da minha carreira de executivo – pasmem parte 2 – isso era o esperado e fazia (?) algum tipo de sentido…

Fiquei mudo… Mas, gostei!

Foi impossível não assistir ao filme completo da minha carreira em minha mente, assim que recebi aquela pergunta! E eu adoro perguntas que me fazem pensar em minhas próprias experiências. Porque é exatamente essa a minha missão: não esquecer nenhum dos erros que cometi, para orientar, aconselhar e mentorear da melhora maneira possível.

Recordei que durante muitos anos da minha vida de executivo e de recém-casado, comentava com orgulho com a minha esposa: “amor, os resultados da minha dedicação já estão começando a aparecer. Os meus ‘rivais’ da área simplesmente não aguentam o meu ritmo. Saem do escritório e eu continuo por lá. Chefão adora a minha entrega e resultados!”

Dificilmente eu desconectava durante as curtas férias (sim, porque eu vendia a parte que conseguia, afinal, dinheiro era mais importante do que curtir alguns dias a mais), mantinha rotina de contatos diários com as minhas equipes.

Já conseguem imaginar os efeitos deste meu comportamento na moral das equipes? Qual mensagem eu implicitamente passava para eles? Que eles precisavam da minha supervisão durante os 14 dias de férias? Sem falar no péssimo exemplo que eu passava para todos. Erros. Erros.

Eu comemorava muito mais o fechamento do resultado do mês do que os sorrisos genuínos de felicidade das pessoas no ambiente de trabalho (não me orgulho disso, mas foi uma fase real).

Verdadeiros líderes ensinam pelo exemplo

Felizmente, alguns líderes extraordinários passaram pelo meu caminho e me fizeram enxergar com os seus exemplos de vida, de que, sim, era possível ser bem-sucedido e feliz. Um deles, saía do trabalho rigorosamente, todos os dias, às 18:00. Ele não obrigava ninguém a fazer o mesmo, mas deixava claro que a partir deste horário ele literalmente “desligava” para o mundo trabalho. Noites eram dedicadas aos esportes, leitura e à sua família.

Os resultados extraordinários que este líder entregava mês sim, outro mês também, não deixavam espaço para qualquer tipo de questionamento. Ele dizia algo como “se você não consegue fazer o seu trabalho em 8-9 horas, ou está fazendo a coisa errada ou da maneira errada. A solução nunca é trabalhar mais horas”.

O outro chefe inspirador que tive, fazia questão de dedicar tempo a diversos hobbies fora do trabalho. A lógica dele era mais ou menos assim (sim, ele tinha o perfil engenheiro/matemático): por que devo ser feliz em apenas 28% dos dias da semana (sábado e domingo) se posso aproveitar a vida também durante toda a semana? Para ele, degustação de vinhos de qualidade, curtir carros esportivos, happy hours e passeios com a família faziam parte da sua rotina durante toda a semana! Este líder foi sem dúvida uma das pessoas mais bem-sucedidas que conheci.

Tive muita sorte em ter sido liderado por eles. O exemplo deles foi gradativamente me mostrando que a escolha (ser bem-sucedido x feliz) que imaginava na minha cabeça, era no mínimo desnecessária. Sou eternamente grato a eles!

🔸 LEIA TAMBÉM: Ser ocupado não significa conquistar bons resultados

Quais das suas escolhas são realmente necessárias?

Eu lembrei dessa palestra ao conversar com uma cliente recentemente. Ela me disse que estava avaliando um período sabático, porque precisava de um tempo para “se cuidar”.

Eu posso ter cometido um erro de interpretação (o que renderia mais uns slides para a minha próxima palestra!), mas fiquei com a sensação de que, no fundo, talvez inconscientemente, ela acreditasse não ser possível conciliar cuidar dela mesma (ser feliz), trabalhar e entregar bons resultados.

Por isso, nessa conversa, me lembrei imediatamente da palestra, do Sérgio de 25 anos (faz tempo!) e dos líderes inspiradores que tive.

Ah! status sobre os dois líderes: ambos estão aposentados, saudáveis e felizes!

E você, ainda tem está em dúvida? Ou já está no caminho para ser bem-sucedido e feliz ao mesmo tempo?


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